"Todas as coisas lindas que ele me falou... eram tudo mentira?"
Jesus alado.
Como eu já fritei os miolos com essa pergunta. Para mim, e imagino que para outras pessoas, essa dúvida te abala tanto porque parecia tão real, mas se ele não te quer mais, significa que era tudo mentira? E se era tudo mentira, como eu pude cair como uma pata, eu sou tão burra assim, tão ingênua assim, tão trouxa assim?
Receber declarações de amor de derreter o coração de alguém que depois de 3 meses desaparece é de te deixar prostrada, caída de quatro, com sentimentos e pensamentos oscilando entre raiva, consternação, sentir-se a maior anta do universo, a maior coitada que caiu nas garras de um monstro, como alguém pode ser tão cruel e desumano.
Não tenho a resposta definitiva, e tenho certeza de que cada caso é um caso. Mas posso falar o que concluí de algumas dessas situações em que tive que me olhar no espelho e sentir, ou me perguntar se agora eu tinha longas orelhas e um rabinho.
Teve uma das vezes em que eu fui muito burra mesmo. Em minha defesa posso dizer que eu era um poço de ingenuidade, praticamente uma virgem. Era meu primeiro caso depois de abrir o casamento -- na verdade eu pedi para abrir o casamento por causa desse cara -- ele era um caçador, e no meio de todo esse rolo eu estava descobrindo minhas sensações com o masoquismo, que são todas enroladas com o abuso na infância. Eu tinha um emaranhado de sentimentos e sensações, e realmente fui burra.
Eu me sinto grata a esse homem por muitas coisas. É estranho mas não tenho nenhum pingo de raiva, só desejo o melhor pra ele. E também assumo meus 100% de responsabilidade: eu quis mergulhar e me embriagar nos sentimentos, sem me importar com segurança.
Eu sabia que ele era do poliamor, e tudo bem, era só uma diversão. Mas ele me falou tantas vezes, de tantas formas diferentes o quanto eu era especial, a mais importante de todas, que cada vez mais só pensava em mim, que ninguém sabia tanto dele como eu, que não vivia sem mim, que fugiria comigo pra um lugar distante e queria ter um filho comigo, o quanto ele era louco por mim e bla, bla, bla... Foram tantas vezes, com palavras tão bonitas, com áudios incríveis. Que por fim, eu acreditei. Que fique claro: eu assumo os 100% da minha responsabilidade. Não acho que ele me enganou. Ele me manipulou, e eu queria ser manipulada. É como a afirmação polêmica do OCE, mas que eu sei que é verdade: quem traiu escolheu trair, e quem foi traído também escolheu ser traído.
Depois que ele me descartou e eu quase morri, umas semanas depois por acaso comecei a ler sobre narcisistas, love bombing, o tipo de frases que eles falam. E naquelas semanas eu vi minhas orelhas bem grandes no espelho. Foram semanas para me sentir a empata boazinha que caiu nos truques sujos do narcisista malvado, até finalmente começar a desconfiar de que era uma história caricata demais pra ser verdade. Hoje eu entendo que todas as merdas que acontecem na nossa vida, nós atraímos, nós somos os sonhadores deste sonho integralmente, mas falo mais disso depois
Em uma situação como essa, em que um cara fez todo o cerco para te seduzir, que se esforçou bastante para te conquistar, te lotou e frases hiperbólicas e depois te descartou... eu diria que não é que era exatamente uma mentira. Supondo que o cara não era realmente do mal, o que acho mais provável é que há pessoas viciadas na adrenalina de se sentir apaixonadinhos por alguém. Porque estar apaixonado é uma delícia, é como estar embriagado. A gente nunca tem muita certeza dos sentimentos, mas sabe que tem algumas situações e frases que dão barato químico.
Acredito que essas pessoas, não é que elas estejam mentindo... ou melhor, elas estão mentindo um pouco sim, mas não de uma forma cruel e desumana, e sim mentindo um pouco pra você, um pouco pra elas. Elas exageram um pouco aqui, umas frases mais hiperbólicas lá, dá mais frio na barriga assim, mais intensidade. E se uma hora se tornar mais assustador, de parecer que começa a ser verdade mesmo que aquela pessoa é tão importante, é só cair fora. Encerre, fim do problema.
Teve outra situação em que o cara não era um caçador. Mas ele me falou frases muito marcantes, sobre sermos amores de muitas vidas, sobre há muitas encarnações ele se preocupar comigo, zelar por mim, querer me proteger, sobre sempre ter me amado. Me mandava músicas lindas que falavam de amor e confiança.
E depois murchou. Se afastou. É a tal da minha Chama. Ele não tem coragem de terminar comigo. Nas palavras dele "não tenho vontade de te afastar". Sou tradutora de iceberguês, e sei que isso significa, no caso dele "você é a mágica na minha vida, meu sopro de ar, não quero viver sem você". Mas está aí paralisado, sem conseguir fazer nada, provavelmente preso aos ganhos indiretos de agradar a mamãe.
Essa coisa de ser filhinho da mamãe é muito, muito forte. Ainda vou escrever sobre isso, mas se tiver curiosidade, pesquise no YouTube Bert Hellinger, filhinha do papai. Eu fui filhinha do papai a vida toda, desde que nasci, só rompi há menos de 2 semanas. E, como nossas Chamas são espelho, sei que essa minha Chama fujona é bem filhinho da mamãe, assim como o outro cara, o caçador, que também era Chama Gêmea e também tinha uma relação muito forte com a mãe.
Para ter uma ideia da oposição de energia, a primeira vez que fomos nos curtir por chamada de vídeo, sabem o que aconteceu? A mãe estava passando uns dias na casa dele e, nesse exato momento que ele me ligou, ela começou a passar mal, ele teve que levá-la ao hospital e só meu deu notícias 3 dias depois. Alguém acha que tinha uma mamãe que não queria perder o controle sobre o filhinho de jeito nenhum, a ponto de sentir energeticamente que era um momento crucial para precisar de hospital?
Mas voltando ao tema do post. Depois de fritar meus miolos por rodadas infinitas de tristeza, angústia, eu cheguei a essa conclusão, e veja se ela serve para você:
"As lindas declarações de amor que ele me falou eram tudo mentira?"
A resposta é não. Não eram mentiras. Todas as declarações lindas que ele já te fez eram verdade, plenamente verdade quando foram proferidas, e talvez sejam verdade ainda agora.
O problema é que existem coisas maiores do que o amor romântico.
Por exemplo, essa história de lealdade invisível, de ser filhinho da mamãe, é algo introjetado na pessoa desde a infância de um jeito que altera as conexões dos neurônios da pessoa. É muito antigo, muito forte e muito intenso, é como se fosse uma super-maldição.
Mas nenhuma maldição é eterna, e qualquer maldição pode ser quebrada. Tudo que está no inconsciente pode ser trazido para o consciente, analisado, dissecado, colocado sob a luz do sol, compreendido, organizado.
Qualquer filhinho da mamãe ou filhinha do papai pode chegar a um ponto da vida em que reconhece que não consegue ter relacionamentos realmente satisfatórios, que é como se ele tivesse a roda presa quando o tema é se apaixonar, se envolver. Decidir que ele quer investigar o motivo, fazer terapias, talvez uma Constelação Familiar porreta, e entender como a vida toda foi o filhinho da mamãe, o principezinho, o maridinho, o queridinho, quem resolve tudo, muito mais macho e resolvedor que o banana do meu marido, todas as esperanças e sonhos não realizados.
Mas ser o filhinho da mamãe é péssimo para toda a família, causa infelicidades para todo mundo.
Quando um homem faz as tais grandes declarações de amor, a não ser que fosse um grandissíssimo filhodaputa manipulador, eu acredito que elas sempre foram verdade quando ele falou.
Mas às vezes ser verdade não é o suficiente, gostar tanto de uma mulher é também muito assustador para um homem controlador, acostumado a ter a porra da agenda perfeita, de nunca se distrair em saudade ou ansiedade em ver a pessoa.
Para ter uma ideia de como um homem pode ser imensamente controlador com os sentimentos, eu escrevia para a minha Chama todos os dias, várias vezes por dia. Ele nunca me respondia no mesmo ritmo, mas tudo bem, eu aceitava. Teve um dia em que não escrevi para ele de madrugada nem pela manhã. Ele me contou que acordou, pegou o celular. Não tinha mensagem minha. Ele deu um refresh, pensando que podia ser alguma coisa técnica. Nada. E ele ficou muito surpreso com ele mesmo por se perceber sentindo falta de ter mensagem minha. Ou seja, "saudade" era novidade pra ele.
No subconsciente, ele está traindo a mamãe. Fora isso, está tendo que lidar com sentimentos intensos, sensações desconhecidas e desconfortáveis. Nesse vacilo, muitas vezes aparece raiva e cobrança da parte da mulher. Há o grande medo do desconhecido, como assim, gostar tanto de alguém?
Vê como é fácil as declarações de amor, mesmo que tão verdadeiras, se tornarem a parte fraca de uma situação espinhosa que o homem não sabe como lidar? Em especial porque a parte mais difícil é a tal lealdade invisível para a mamãe, e que a maioria das pessoas não tem noção de que existe e como funciona. Tornando-se consciente já não é muito fácil de lidar, sem conhecimento daí é que fodeu tudo, somos apenas marionetes do destino, barco à deriva, sempre com relações zicadas, rasas, ou que dão errado, sem saber por quê.
Sem entender que somos adultos que ainda se sentem casados com a mamãe ou com o papai.
Acabei falando bastante do filhinho da mamãe, mas acho que era apropriado para responder se as declarações de amor eram mentiras.
Não eram mentiras.
Mas é que a força de uma mamãe controladora pode ser imensa, catastrófica. E enquanto a pessoa não estiver disposta a resolver esse cinto de castidade, esse grilhão no pescoço, não tem muito o que a parceira possa fazer, não importa o quanto ele goste de você. Enquanto for filhinho da mamãe, ele sempre vai encontrar motivos para fugir, seja rompendo, seja se distanciando emocionalmente. Porque o coração dele é só da mamãe.