Pra quem sempre quis viver imersa em magia
Estes são dias em que estou especialmente chorona. Ou talvez eu seja especialmente chorona e passei 40 anos tentando bloquear isso, engolir as lágrimas, ser dura e forte. As lágrimas da Oralidade, de quem tem a fome de engolir o mundo.
Meu sobrinho é muito Oral, e uns anos atrás eu o julgava com o coração de Faraó e via um monte de defeitos, brigava com a minha irmã. Hoje acho lindo de ver essa fome de vida, o quanto ele adora, experimente, pede, quer, sonha, deseja. Ele quer um corte de cabelo estiloso, falei para ele mostrar uma foto, no fim de semana vou tentar fazer. Ele queria pintar o cabelo de azul, minha irmã falou que agora não, mas talvez em breve. E não vai demorar muito, acho que ele vai querer brinco. E já tem sonhado com o papel de parede do Homem Aranha no quarto. E sonha em um dia ir pra Nova York. É uma inspiração todos os dias ouvi-lo falando das coisas que ele quer.
Hoje me veio uma sensação plena de que estou vivendo a vida com a qual sempre sonhei... ou melhor, na época em que eu ainda conseguia sonhar algo, tinha 9 anos, eu fechava os olhos e pedia para Deus me levar para o o Sítio do Picapau Amarelo, queria ir para a Grécia Antiga com a Emília, para o Reino das Águas Claras com a Narizinho. Depois quando comecei a ler Ficção Científica, na pré adolescência, ficava pensando nos outros mundos, não rezava mais, só pensava em como seria bonito viver aventuras espetaculares.
Depois passei muitos anos desejando pouco... eu tinha tanto dinheiro mas meu quarto era uma cama de casal, dois criados mundos, paredes sem nada, nem cortina. Não conseguia ficar desejando lugares para conhecer, e me orgulhava em gastar pouco dinheiro, mesmo a gente tendo tanto... era um certo modo de sobrevivente. E começando a me sentir velha, gorda. Meu ex-marido tem o link do blog, e queria deixar claro que não tem nada a ver com você, meu amor, era eu, as minhas feridas que eu ainda não conseguia cuidar. Era eu, vivendo na miséria, porque não conseguia nem enxergar os meus problemas.
Hoje estou aqui nesta edícula no fundo do quintal da casa dos meus pais, este lugar sem forro no teto, com goteiras, paredes descascando, calor mesmo com o ventilador, meu notebook usando um canto do móvel de uma das máquinas de costura.
Eu me sinto incrível e sinto que a vida é incrível e cheia de magia. E fico ganhando presentes.
Ganhei um presente mágico do Caçador, é algo cheio de poder, que me arrepia, me faz sorrir, me dá prazer, orgulho, alegria.
Ganhei outro presente mágico da Onça-raposa, um objeto que faz minhas couraças irem derretendo mais rápido, que ajuda a curar as feridas que ela bem identificou no miolo das flores.
Tem amigos queridos que me escrevem pra derramar amor, como o Charm-boy carinho-de-gato.
Tem as conversas com a Onça-raposa amada, e como é maravilhoso alguém pra quem as minhas visões fazem tanto sentido, alguém que eu falo "derramei mel luminoso dourado no coração do seu filho", ela entende, concorda na hora, vai fazer as mentalizações também.
Hoje percebi com clareza o quanto estou vivendo no mundo mágico que eu sempre quis viver. Um mundo mágico, cheio de criaturas mágicas, com dádivas, presentes, encantamentos, maldições quebradas, redenção, prazer, romance, alegria, aventura.
A Onça-raposa faz eu rir muito, como não ria faz tempo "Você virá nos conhecer, mas minha casa é pequena, não tenho quarto de visitas, então você vai ter que dormir no quarto do [nome do filho dela]".
É tão engraçado como não tem a menor importância se vai acontecer algo concreto, mas só de estarmos aqui, duas bruxas, ou loucas, falando das nossas visões de vidas passadas, de sensações e percepções, de cura e prazer -- me veio a clareza do mundo mágico que estou vivendo.
Ou o presente do Caçador, que eu coloco pra assistir de novo e me cobre de arrepios da cabeça aos pés em ondas -- não tenho só um fraco por palavras, mas o timbre da voz é algo que me hipnotiza, e posso pegar meu vibrador e gozar em menos de 30 segundos.
Me sinto o dia todo trabalhando com Magia, chega à noite vou pro onírico, pro astral, e sei que a diversão continua. A Onça-raposa também não lembrava dos sonhos, mas depois do ritual começou a lembrar mais. É a quarta pessoa pra quem fiz ritual que teve um efeito assim, eu quase explodo de alegria e orgulho de saber que ajudo as pessoas a sonharem mais, pelo menos a lembrarem mais dos sonhos, isso também me faz chorar.
Caralho.
Como a vida é maravilhosa.