Será que ele pensa em mim?

Ele pensa em mim? Ele sente a minha falta? Ele me esqueceu? Ele gostaria de falar comigo? Ele sente saudade dos momentos tão lindos que já vivemos? Será que ele gostou das minhas fotos? Será que ele não tem falado comigo porque achou uma mulher muito mais bonita e interessante?

Essas eu também já derreti o cérebro, me flagelei dando ouvido aos demônios e deixando as minhocas me corroerem. Já chorei sozinha encolhida em posição fetal e já pensei que a vida não vale a pena. Muitas vezes sou a rainha do drama, e não desprezo ninguém que esteja nessa dor, pelo contrário, faço questão de dizer que já estive aí, várias vezes. E gostaria de compartilhar o que me ajudou a sair, talvez de um jeito que não precise mais rastejar.

Eu acredito que a gente sofre tanto porque nos falta o remédio para todos os males, o tal do amor-próprio. Escrevi um pequeno post sobre o tema.


Os demônios podem gritar tão alto porque a gente não tem certeza de quem somos e do nosso valor.

Pensa aqui comigo: eu sou linda, gostosa, inteligente, divertida, sagaz, culta, madura, ousada, sexy, instigante, desafiadora. Sei fazer gostoso, inclusive para me divertir com coisas que são fantasias de muitos homens, como sair sem calcinha, deixar ser tocada em restaurantes, cinemas, pubs, estacionamento, boquete na estrada, no carro durante o dia em lugar movimentado, além das alegrias da submissão. Sei escrever de forma encantadora, sou boa de sexting, tenho nudes maravilhosos. Com essa personalidade e atitudes, me comparam com tempestades, vulcões, rajadas de vento, sopro de ar em ambientes sufocantes. Sou bruxa, tenho visões, medito, me conecto cada vez mais com minha intuição, consagro ayahuasca, jurema-preta, conheci o kambô e ganhei uma cicatriz permanente nessa cerimônia. Sou um fetiche ambulante: neta de japoneses masoquista e submissa mimada. Tenho prêmios diversos, sou formada em uma faculdade pública, declinei de uma outra, me destaco em qualquer coisa que eu me empenhe. Eu brilho, não passo despercebida em nenhum lugar. Tenho independência financeira, já viajei para vários países, me viro em inglês, resolvi a maioria das minhas carências, não tenho filhos, meus pais não dependem de mim, sou saudável, não tenho nenhuma doença -- não costumo ter nem dor de cabeça, me separei e estou vivendo uma nova fase de vida com um horizonte amplo e repleto de oportunidades.

Quem é tudo isso tem por que ficar chorando no chão em posição fetal?

Mas em vez de pensar isso de mim, eu poderia me dizer "eu sou velha, feia, gorda, baixinha, esquisita, tenho celulite, um monte de gordura localizada inclusive no monte de vênus, nas coxas, não tenho trabalho, estou sozinha, meu cabelo está ressecado, meu rosto é muito oleoso e tem poros dilatados, os poros da minha perna são dilatados e assim minha panturrilha não é perfeitamente lisa, tenho pintas demais, bolinhas vermelhas pela pele, rosto grande demais, minha cintura não é fina, meu bumbum não é empinado, minha ppk e meu cu não se parecem com o das atrizes pornôs, eu ronco e ranjo os dentes meu bruxismo é tão pesado que se não dormir com placas todas as noites quebro meus dentes, sou uma fracassada que está com 44 anos, separada, sem filhos, sem futuro, sofri abuso, bullying, assédio, sou uma pessoa cheia de feridas e traumas, nunca consegui ter um orgasmo transando com outra pessoa, não confio em ninguém, tantos homens de quem já gostei diziam que me amavam tanto e depois me abandonaram, sou calada demais, não tenho carro, não tenho casa, às vezes choro de saudade do meu enteado (mas mantenho distância, não quero o coração dele numa caixinha, quero que ele tenha uma vida independente e maravilhosa), acho que nunca mais vou voltar a usar meu passaporte, não sei quando volto a fotografar natureza e bua, buaaa".

Tudo que escrevi nos dois parágrafos é verdade ou pode ser verdade. Só preciso escolher o ponto de vista. Eu posso me descrever, me ver e me projetar para os outros como a mulher que deseja

  1. Ficar na sarjeta se açoitando, como eu acho que minha Chama tem feito, uma escolha que o torna tão vibrante e resoluto quanto um cadáver ambulante.
  2. Ou quero me sentir uma mulher da porra, gloriosa, segura de si, capaz de lidar com qualquer situação?



Amor-próprio.

Saber do que você é feita, ter muita certeza de todas as suas qualidades.Se amar e ter certeza das suas qualidades é a diferença de ser frágil como uma folha ao vento, ou sólida como uma árvore com raízes profundas.

Veja, não estou dizendo que você não tem o direito de chorar num cantinho em posição fetal. Se tiver vontade de chorar, chore, se puder pedir colo e ajuda para as pessoas, melhor ainda. Mas depois que tiver passado o momento, quer trabalhar em si para diminuir as chances de ter crises como essa?

Aprenda a se amar. Porque quando você se ama:

1 - ou você tem certeza de que sim, ele pensa em você, ele gostaria de falar com você, ele sente saudades de você

Ainda que ele possa sentir tudo isso, mas ter lealdades invisíveis que o impedem de te procurar. Em geral é com a mamãe. Um dos motivos de um homem apavorar frente a uma mulher da porra e sair fugido é porque ele sente que há grandes riscos daquela relação romper o cordão umbilical com a mamãe, e a desaprovação da mamãe é algo que muitos homens não se sentem capazes de lidar.

2 - Ou então você nem pensa mais nele, não se importa se ele pensa em você ou não, porque já está em outra. Seja outro relacionamento, seja ocupada com outras coisas.

Um outro caminho possível para não se importar se ele está pensando em você ou não tem a ver com a dissolução do ego. 

"Ele pensa em mim ou ele me esqueceu? Ele gostou de mim tanto quanto eu gostei dele?" Além das inseguranças, esse tipo de questionamento é muito ego pedindo para ter certeza de que somos relevantes. No caminho do amor-próprio conquistamos a certeza do nosso valor, e em alguns momentos chego perto de um ponto em que sinto uma paz em que não preciso dizer pra mim que sou incrível e azar do fulano que não me quis. Na maior parte do tempo chego no "a gente apenas não combinava", e às vezes parece que tem um espaço tão amplo dentro de mim, uma imensidão em que pouco importa se o fulano escolheu ficar com a mamãe em vez de construir uma vida comigo, no fundo parece que não faz diferença.

Você é um pouco estranha com esse papo de espaço grande dentro de si, mas me convenceu sobre a utilidade do amor-próprio. Mas como desenvolvo o tal do amor-próprio?

Tenho algumas sugestões, coisas que funcionaram comigo. Estou sempre falando delas, mas vou escrever com mais detalhes. Já adianto que passa por fazer as pazes com você, e você inclui seu corpo. Você não é apenas um aglomerado de ideias, se amar significa ter orgulho e amar seu corpo, cada pedacinho dele. Escrevo mais em breve.

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E eu adoro aquele meme que é "Será que ele está pensando em mim", e o balãozinho do homem é "Será que pinguim tem joelho?". Mas não achei.




 



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