Como não se chatear quando tiram sarro de você?
Uns meses atrás meu sexólogo tântrico, com quem eu estava fazendo só sessões por vídeo graças à pandemia, me perguntou "Alguém tem realmente o poder de fazer a gente sentir algum coisa?"
A resposta óbvia seria "Claro que sim!!! Tem gente que me ofende, que me chateia, que me elogia. Gente que faz eu me sentir péssima, gente que faz eu me sentir linda". Quando ele me perguntou, isso passou pela minha cabeça e eu devo até ter aberto a boca pra responder, mas fechei, porque se tem algo que eu já tinha aprendido é que quando terapeuta te faz uma pergunta cuja resposta parece óbvia demais, com certeza sua resposta está errada.
Meu terapeuta falou "Quando você se envolve em uma briga de trânsito, você está errado. Você permitiu que alguém te tirasse do seu centro". E na conversa, fui entendendo a abrangência e profundidade do exemplo que costumo dar da altura ou da inteligência. Se você tem certeza dos seus atributos, quando alguém te fala o contrário, isso não te abala, quando você está confiante, centrado, seguro, nada te tira do seu centro.
O que te abala é aquilo que você tem dúvida. O que te ofende não foi o que o outro falou, mas sim aquilo que reverberou dentro de você. Não é que alguém tem a capacidade de fazer você sentir algo: você sente quando aquilo se conecta com algo seu. É a tal da sintonia que os místicos falam. Faixa de vibração. Conexão.
Quando tiram sarro de você, por exemplo por ter poucos likes em uma foto, se isso lhe parece doloroso será que não é porque no fundo você se vê como alguém pouco popular, recluso, desinteressante?
Se você estiver agindo como alguém que mantém sempre armaduras erguidas, que não se coloca como vulnerável, que fica julgando os gostos musicais dos seus amigos e sentindo que os seus são superiores por tais e tais motivos, será que eles não estão certos em te ver como alguém esnobe? Não estou dizendo que você é esnobe, e sim que sua postura de afastamento contribui para eles te verem como alguém isolado, "que não se mistura". E que merece ser zoado.
Quando você começar a publicar, se alguém te zoar, primeiro acho que você devia pensar que faz sentido, visto seu histórico de comportamento. Segundo, você não precisa se ofender. Você pode ter a certeza de que você é um cara legal, mas que tem agido de forma pouco sociável, e que faz sentido que eles te vejam com desconfiança, ou queiram te zoar.
Mas quando alguém te zoa, ou te dá uma bronca, é uma escolha se ofender, se encolher, se sentir humilhado, Ou usar aquilo como uma escada para crescer, para brilhar. Se você se mostrar vulnerável e humano.
"Ihh, o Cavalheiro não recebeu nenhum like...", talvez você possa responder "Eu mereço cara, passei tanto tempo bancando o cuzão, dizendo que funk não presta, que a música é ruim, sem querer sair com a galera... mas quero evoluir", e talvez um gif de um cara dançando. Ou o que você sentir vontade.
Um colega da consultoria onde eu trabalhava contou que uma vez estava cuidando de uma burocracia bem chata, chegou com o formulário, ele não tinha preenchido tudo que precisava, a funcionária perguntou mal humorada "Estão faltando tais e tais campos, você não leu as instruções não?".
Ele poderia ter se sentido humilhado ou ofendido, mas em vez disso ele sorriu e falou "Me desculpe, eu li, mas pelo jeito li que nem meu fiofó ..." -- ele é um cara alto, bonito, simpático, e isso foi falado num contexto leve, de um jeito que ela riu e o ajudou a preencher o que faltava.
Esse é o poder da vulnerabilidade. Se você se mostra humano, se você tira a pose, a armadura, se você se ridiculariza, se você entra na sintonia do bom humor, você aumenta muito as chances das pessoas se conectarem com você.
No Eu me Amo você viu um texto que escrevi para uma moça que tem um problema de pele que causa dezenas de verruguinhas? Ela contou que sempre se chateava quando alguém perguntava, mas parece que teve um insight quando eu disse que se chatear e se ofender não são as únicas reações possíveis. Que quando alguém pergunta o que ela tem na pele, ela poderia responder "Quando minha mãe estava grávida de mim, um sapo queria beijá-la, ela não quis, e o sapo rogou uma praga. Ora essa, quem diria que praga de sapo pega mesmo". Ela disse que gostou muito, e que passaria a usar a história.
Lembre-se: se ofender e se chatear é sempre uma escolha. Não é o que os outros fazem pra você, e sim o que você toma para si.
Na tal rede social, escrevo sobre sexo, posto fotos sensuais. A maioria das pessoas com quem converso elogia numa boa, conversa como gente normal. Teve um cara que me chamou de prostituta, vadia, e disse que a rede social não devia permitir propaganda de prostituição. Você acha que isso me abalou? Não mudou nem minha frequência cardíaca. Uma porque não tenho o moralismo de criticar prostitutas, eu sei que a palavra é usada para ofender, mas de fato não tenho críticas, na verdade tenho conexão emocional de vidas passadas. E outra porque tenho muita certeza dos meus objetivos.
Ninguém pode realmente te ofender ou te humilhar. Isso só acontece quando você permite que sua insegurança aflore.
Eu tenho 44 anos, meço 1,59, peso 68kg, tenho gordura, celulite, estrias. "Velha. Feia. Gorda. Ridícula. Vagabunda. Exibida. Não se enxerga. É coroa e acha que pode posar de mocinha" -- às vezes testo, imagino se teria alguma frase que poderia me chatear, e se me chateia, tento imaginar os motivos.. Mas no caso, nada disso pode me ofender, não reverbera em mim. Consegui me libertar do discurso tóxico do padrão de beleza, da juventude cronológica, e hoje me vejo como linda, gostosa, deusa. Tenho mil elogios para o meu corpo e minhas formas, a gordura no meu corpo, no meu ventre, nas minhas coxas, nos meus braços não são mais o inimigo para ser eliminado, elas são parte de mim, da minha maciez, da minha gostosura. Meu corpo não tem um formato plenamente de adulto, essa gordura me dá características infantis, e isso tem um lado muito bom. Vou falar mais disso num próximo post.
Qualquer aspecto seu, você pode integrar e passar a usar como força, em vez de ser uma fraqueza por onde as pessoas podem te atacar e te machucar.
Um outro comentário sobre o tema dos likes, não tenho certeza de como funciona a mente dos adolescentes em redes sociais, mas na rede social em que nos conhecemos, reparei que algumas pessoas adotam a estratégia de passarem semanas curtindo, votando e comentando os textos dos outros. Daí quando eles começam a publicar, fica bem mais provável serem votados e comentados.
Seu receio de receber poucos likes quando você publicar, talvez algo assim possa ajudar? Imagino que sim. Tenha uma foto boa sua, passe um tempo fazendo um social, e isso aumenta a chance dos outros votarem e comentarem. Também lembrei que na outra rede social de que eu participava, uma de birdwatchers, era a mesma coisa.
Existem coisas espetaculares que conseguem milhares ou milhões de curtidas, não importa de quem seja. Mas na maioria das situações, para os mortais, a quantidade de likes tem mais a ver com o quanto aquela pessoa é razoavelmente seu chapa. São redes sociais. Se a quantidade de likes te importa, faça o social, aja como uma pessoa social.
Estou falando isso porque, acredite, nem todo mundo usa redes sociais como algo realmente social. Claro que quem faz o social, interage com as pessoas, comenta, publica com frequência tem muito mais chances de ser popular e ter mais alcance. Mas se agir dessa forma é algo que te parece horrível, trabalhoso, desanimador, considere usar sua rede social de forma bem mais passiva.
- Você publica de vez em quando e não se importa com a quantidade de likes.
- Ainda assim, você publica consciente de que aquela é uma vitrine para quem quer te conhecer.
- Eventualmente quando alguém se interessar por algo que você falou, ou por uma foto sua, a pessoa clica no seu nome e terá mais informações sobre você.
É o que eu devia estar fazendo no Instagram, que hoje em dia é a prova de que alguém existe... O homem para quem fiz a análise corporal contou que quando começamos a conversar procurou meu nome no Instagram, tenho um perfil fechado que não tem quase nada. Ele pediu para me seguir, não respondi porque quase não abro. Péssimo para os negócios, mas ainda bem que ele decidiu ouvir a intuição e confiar apesar de eu não ter vida social na rede mais importante hoje para esse tipo de coisa.
Vou comentar outros temas em próximos posts.
Beijos!
Estes links podem te interessar: não importa a situação, se você consegue levar com leveza, bom humor, alegria, você com certeza está no caminho certo. Não porque seja errado se sentir triste. Um luto por exemplo, seja por uma morte ou pelo fim de uma relação em geral requer um recolhimento. Mas quanto antes você conseguir se reconectar com a leveza, melhor pra você.
https://www.verywellmind.com/the-stress-management-and-health-benefits-of-laughter-3145084
https://www.usa.edu/blog/how-laughter-can-relieve-stress/
https://www.verywellmind.com/maintain-a-sense-of-humor-3144888
Fonte da imagem: https://www.verywellmind.com/maintain-a-sense-of-humor-3144888
