Sobre auto-bullying e auto-aceitação

Querido maninho, irmão.

A normalidade é uma grande ilusão.

Enorme.

Estou aqui sorrindo porque tenho certeza de que é um dos véus que eu gostaria de levantar.

Meu ex-marido é uma pessoa maravilhosa, mas durante uma época -- não sei por que, tanto dos motivos dele quanto do meu subconsciente -- ele achou que era engraçado volta e meia me falar que japoneses são feios, atarracados, esquisitos, que têm pernas curtas, são troncudos. Em especial o pessoal de Okinawa e, no meu caso, sempre frisava que eu tenho pernas curtas. 

Vou ilustrar com um painel de fotos no estilo OCE, caso alguém se pergunte se meu ex-marido tinha razão :))

Os pais do meu pai vieram de Okinawa. Um dia eu cansei e falei de forma bem categórica "pare de falar que japoneses são feios e têm pernas curtas, que as pessoas de Okinawa são feias, porque você está dizendo que minha família é feia, que eu sou feia, você acha que eu gosto disso?".

Quando alguém diz "suas pernas são curtas" sabe o que isso significa?

Que existe uma proporção correta de tamanho de pernas, e que a minha está errada.

Quando alguém diz que não tenho cintura, que japonesas não têm cintura, e falam isso de forma jocosa, significa que o certo é ter o formato violão.

Você tem uma condição incomum no seu corpo. Essa condição traz algumas configurações mais raras de ver, imagino que causa algumas limitações nos seus movimentos. Mas é só isso. É mais incomum. Não te torna aberração.

Conheço algumas pessoas que mancam bastante, que precisam de bengala para andar, inclusive gente jovem. Algumas, mais velhas, são sequelas de pólio. Tem as pessoas com Down ou outros transtornos. Sei das Borderlines e com Transtorno Bipolar ou depressão grave, que pode não ser algo na aparência, mas o efeito que tem sobre a vida pode ser tão expressivo ou mais do que algo físico.

Sua condição física prejudica você dançar?

Tem um monte de gente com o corpo potencialmente "normal", mas que não dançam de jeito nenhum. Idem para diversos esportes, atividades físicas.

Você tem uma lista de um monte de coisas que não pode fazer porque seu corpo tem essas configurações diferentes? Sabia que o físico não ter essas limitações que você tem não garante que a pessoa possa fazer? Ela pode ser descoordenada, ou simplesmente ter preguiça, não ter vontade.

"Eu me sinto infeliz porque sou um homem que não poderia levar minha namorada para acampar, fazer longas trilhas com ela".

Já parou pra pensar que tem muita gente com o corpo aparentemente "normal", mas que também não pode?

Seja porque não gosta. Não quer. Tem preguiça. Tem problema na coluna.

Maninho, vou te falar uma coisa com toda liberdade de maninha, ainda mais uma que você já teve visões comigo pelada (adoro esse meu lado succubus em que volta e meia os caras sonham comigo pelada, e agora apareço pelada em visões). Mas voltando, preste atenção porque isso é muito verdadeiro:

o maior bullying contra você é você mesmo quem faz.

As situações em que você é rejeitado ou motivo de chacota dos outros acontecem porque essa é a sua fraqueza, esse é o ponto por onde você sangra e os tubarões sentem. 

Tenho um bom exemplo.

Este cara aqui é cego. 

Eu sei que ele é um personagem. Mas não tenho dúvida alguma de que existem cegos e outras pessoas com limitações físicas que não permitiram que isso definisse o que elas podiam ser. Outro dia meu pai me mostrou a foto de um cara todo sarado, lindo. Sem as duas pernas.

Suponho que foi algum acidente, e ele podia escolher se tornar um coitado encolhido amargurado triste, ou se portar como alguém que pode brilhar. E daí que ele não tem as duas pernas?

Há filmes legais que colocam algum deficiente como uma pessoa normal. Nos filmes americanos de vez em quando aparecem dois caras jogando basquete, um deles numa cadeira de rodas, mas eles estão lá papeando e jogando. Ou algo como a garota jovem bonita, cadeira de rodas também, no jantar com os amigos, rindo, e ela só precisa de um pouco de ajuda para entrar e sair do carro.

Mas voltando ao Matt Murdock, sei que ele é um personagem, que ele tem os super-poderes dele. Mas vê como ele tem a postura de um cara fodão. Ele é cego e tem um monte de coisas que não pode fazer. Mas ele pratica exercícios físicos, usa roupas bonitas, tem a independência dele, aparentemente é ótimo de cama. Eu acho ele um maravilhoso, para mim é perfeitamente crível a Karen gostar dele. Só não digo que eu namoraria com ele porque não quero mais saber de homens atormentados e acorrentados a dores do passado, com uma sede infinita por vingança. Mas se fosse só pelo lado homem, o advogado, consigo me imaginar vivendo com um homem desses. 





É menos porque ele é sarado, porque na verdade considero um certo defeito. Mas é mais por se sentir Homem. Senhor de si. Forte.

Você está vendo aonde eu quero chegar.

Acredito que a fonte, as raízes das questões que você descreveu vêm do seu auto-bullying.

Sua condição física te traz algumas limitações, mas acho que consegui explicar que muitas pessoas têm, e mesmo quando não é algo físico, pode ser da personalidade que vai ter o mesmo efeito.

Por exemplo, meu corpo é aparentemente normal, certo?

Se eu tivesse um namorado que valorizasse atividades físicas, academia, esportes, seria um problema equivalente a eu ter restrições físicas. Ele poderia terminar o namoro comigo porque eu não tinha vontade de correr com ele, de jogar vôlei com ele. Porque tenho um índice muito alto de gordura no corpo. Porque sou preguiçosa.

Uns anos atrás conheci um pedacinho da Austrália. Estava fazendo snorkeling numa praia de Sidney, e tinha uns garotos aborígenes brincando lá também. Mergulhando e se jogando na água, de um jeito que atrapalhava bastante meu snorkeling, mas tudo bem, a praia era para todos.

O fenótipo deles era mais ou menos assim:

E não estava nem um pouco intimidados ou inferiorizados porque a maior parte das pessoas era gente mais ou menos assim:

Os garotos de ascendência aborígene estavam alegres, rindo, pareciam felizes. Com a postura de quem sabe que não há nada de errado em ser quem eles são, em ter a aparência que eles têm. 

É uma tristeza da porra ter gente que acha que eles são anormais, feios, estranhos. A tentativa de enfiar goela abaixo, como universal, algo que é só de um grupo me dá um desgosto.

Uns dias atrás percebi que era melhor parar de conversar com uma mulher que acredita que proporção áurea e simetria é prova de beleza, que qualquer pessoa da Terra, ou talvez do Universo, se encantaria com as obras do Renascimento porque elas têm a perfeição matemática, e isso faz com que qualquer um caia de quatro pela beleza perfeita daquelas obras.

Que tristeza essa ilusão de que o que um grupo acha bonito ou bom, é O Belo, o Melhor para qualquer pessoa.

Eu conheço vários museus pelo mundo. Nunca em nenhum momento considerei o Renascimento com suas proporções áureas o supra-sumo da arte.

Aliás, pensando nessa imagem, saiba do seguinte: quando você entender que o fato do seu corpo ter aspectos incomuns não te torna inferior, é bem provável que em breve você conheça uma mulher para quem o que você considerava defeito será motivo dela gostar mais ainda de você. Pensei nisso porque acho a simetria e a proporção áurea do Renascimento um tédio, enquanto que me encanto por algumas escolas japonesas, como a Escola Rimpa, e dos europeus gosto do Expressionismo e do Impressionismo. E sabe que Expressionismo, Surrealismo, eram considerados Arte Degenerada. Posso fazer outra associação: minha Chama Gêmea tem aspectos sombrios, profundos. Que algumas pessoas veriam como defeito. Pra mim é um charme a mais, me faz gostar mais ainda dele. O que eu desejo pra você, meu maninho querido, é que logo você conheça uma mulher para quem as características diferentes do seu corpo sejam apenas um charme a mais.

Matt Murdock no geral não alimenta mágoa, raiva, vergonha, vitimismo por ser cego. O que posso imaginar é o prazer de andar de braços dados com ele, ou das diversões sexuais com alguém que não tem o principal sentido dos humanos, mas que com isso tem os outros sentidos mais apurados.

Posso dar outro exemplo.

Eu sofri abuso na infância, e possivelmente é o motivo de nunca ter conseguido gozar transando com outra pessoa, só consigo sozinha. Fora isso sou masoquista sexual.

Eu poderia concluir que sou uma aberração, uma vítima, uma coitada, que os homens são todos uns monstros, e me tornar uma pessoa cheia de culpa, vergonha, medo.

Mas escolhi o outro caminho: a Chama Gêmea, o Caçador, são homens com quem converso sobre os temas e me imagino me divertindo e aproveitando minhas características. Para jogos, prazer, diversão, e piadas comigo mesmo.

Teve uma aula do OCE em que os professores estavam tirando sarro dos masoquistas -- como eles tiram de todos os outros traços -- falando daquela história do cara que tinha um problema na contabilidade, ninguém conseguia resolver, o Elton foi lá, olhou o grupo, identificou o masoquista do grupo e apontou "aquele é o cara que vai resolver seu problema". E depois que o cara resolveu mesmo, esse cliente do Elton se perguntava "mas por que ele não se apresentou antes? Ele não gosta de dinheiro? Eu perguntava, ele nunca falava nada". E os professores comentaram que o masoquista nunca teria pulado na frente de todo mundo, correndo, ainda mais porque não tem agilidade, acho que eles fizeram um gesto imitando o que seria um masoquista correndo pra mostrar como algo ridículo e improvável.

Estou falando desse exemplo porque nas situações em que alguém tirar sarro de você porque você se movimenta diferente, eu sei que ou você pode apenas não se importar, porque está com seu amor-próprio curado. Ou, se é alguém querido, que vale a pena, você pode tirar mais sarro ainda de você. Falar ou fazer um gesto mais caricato ainda, e todos dão risada, inclusive você mesmo.

Seja um certo bullying de alguém idiota, seja um leve bullying entre amigos, o fato é que no geral a pessoa espera você ficará sem graça. Ela fala aquilo como uma demonstração de poder sobre você, para impressionar o grupo ou alguém por perto, ou para se sentir superior. Ou só para provocar.

Mas tcharans! Se você não se intimida, se entra na brincadeira, se fala algo pior até, não tem como te chatear, humilhar, machucar.

Costumo falar desse exemplo: estava com um amigo e uma amiga fazendo um passeio de birdwatching. Pedi pra minha amiga guardar minha garrafinha de água na minha mochila, a mochila nas minhas costas "Põe aqui atrás pra mim?", o meu amigo ouviu e falou "hmmm, põe aqui atrás, sei...". Era um dos nossos primeiros passeios, e as pessoas podem achar que eu ser quieta significa que eu seja tímida, e foi delicioso ver a cara dele de surpresa quando respondi "sim, põe aqui atrás que eu gosto, e pode por várias vezes. Põe com gosto".

Alguém tirou sarro do seu jeito de andar?

Não se encolha. Assuma o palco, vai falar com a pessoa, de forma bem humorada. Faça algum teatro, micagem com ele, algo para vocês rirem juntos. Ou talvez seja algo para você zoar o cara mesmo. Acabei de pensar nisso, e vou escrever um post só sobre o tema. Escrevi: https://kalistaheart.blogspot.com/2021/03/nunca-permita-ninguem-ser-folgado-com.html

Quando alguém mexe com você, no geral a pessoa nunca espera que vai ter resposta.

Mas quando você descobre que pode responder, o mais provável é ser cada vez mais raro alguém mexer com você.

Porque para de sangrar. Porque não é mais a fragilidade que os tubarões farejam de longe.

Você tem lido meus textos sobre amor-próprio? Você faz as tarefas, a terapia das selfies?

Porque eu desconfio que você ainda não fez.

Mano.

Compra a porra do tripézinho de selfie com controle remoto.

E se fotografe, pelo menos três vezes por semana. Se fotografe com gosto, cada sessão tem que ter pelo menos três fotos boas. Sabendo que o normal é levar pelo menos 1h no exercício, entre aquecimento, até começar a ter umas fotos boas. Imagino que você tem a possibilidade de ter uns cenários diferentes, bonitos. E tem as luzes da manhã, do fim do dia.

Se você ainda não viu minhas pastas do Pinterest, veja agora, tem os links neste post:

https://kalistaheart.blogspot.com/2021/03/como-ser-linda-e-gostosa.html

É pura reprogramação neurológica pra limpar da sua mente as ideias toscas de que normalidade é ter cara e corpo de propaganda de óculos de sol.

Apenas faça.

Se você tem tido visões comigo, sabe como eu sou bruxa, então confia no meu poder e simplesmente siga meus conselhos.

E saiba que não vejo a hora de trocarmos. Estou aqui te dando conselhos, mas não vejo a hora de ser você a pessoa e me aconselhar, a me dizer o que estou fazendo que está me limitando.

A mulher que chamo de Onça-raposa, menos de 3 semanas atrás nos conhecemos, ela se via como alguém pequena, frágil. Precisa ver que coisa linda, como desabrochou rápido. Está até fazendo feitiços pra mim, atendendo a primeira cliente. Cada dia mais linda, gostosa, bruxa e poderosa.

Acredite em mim: meus conselhos sobre essa história de terapia das selfies são muito bons. Tenho certeza de que muda sua autoimagem, vai te ajudar muito na sua autoaceitação, portanto na imagem e energia que você projeta para os outros, portanto na sua relação com os outros.

Lembra sempre do meu exemplo: eu me vejo como bonita, gostosa, projeto essa imagem, produzo fotos, sou desinibida e quando quero sei ter conversas eróticas incendiárias. Mas se tivesse assumido a postura de coitada de mim, vítima, medo, homens maus, ou então me tornado uma mulher com um discurso extremista, agressivo, falando do quanto nenhum homem presta: eu emanaria uma energia bem diferente, e atrairia pessoas bem diferentes.

Tudo na sua vida vai melhorar muito quando você entender que você é lindo, gostoso, e que os aspectos diferentes do seu corpo não mudam isso.

Segue os meus conselhos. Produza as fotos, produza painéis, faça como eu tenho feito, de combinar fotos com frases que te representam. É conexão com arquétipos, manipulação do subconsciente.

Se estiver mais difícil, pode começar fazendo o exercício de se contemplar em frente ao espelho e mandar muito amor para cada parte do seu corpo. Contemplar, passar hidrante, tocar, acariciar com carinho. Lembrar pra você mesmo que esse corpo é você, e o quanto merece amor.

Escrevi um montão.

Espero que ajude.

Depois me conta o que pensou.

E de preferência, me fale sem pensar muito.

Só jorra.

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